04 julho 2005

O perigo mora embaixo

Um dos meus passatempos favoritos é conversar com completos estranhos pela internet. Recentemente conheci um sujeito a quem chamarei aqui de Junior, que me relatou uma história que merece alguma reflexão. Conversamos um pouco numa sala de bate-papo e como o assunto estava deveras interessante, pegamos no telefone para completar nosso deleite.

Demonstrando ressentimento e nostalgia por tempos mais faustos ele me contou que atualmente reside em uma quitinete junto com mais três amigos no Bairro de Fátima no centro da cidade, mas que já viveu em condições muito melhores em um amplo apartamento em Guadalupe, subúrbio do Rio de Janeiro. Teve que sair de lá fugido devido a um incidente envolvendo seu ex-namorado, com quem morava e uma criança de apenas oito anos. Durante um período em que seu companheiro estava desempregado, este recebia visitas constantes dessa criança, a quem meu interlocutor havia batizado, já que era amigo dos pais dele desde antes do seu casamento.

Um dia desconfiou das atitudes suspeitas do garoto dentro de sua casa, e, depois que este foi embora, inquiriu junto ao seu companheiro o que realmente estava acontecendo entre eles. No inicio ele desconversou, demonstrando-se indignado ante a suspeita mas depois de alguma pressão acabou admitindo que recebia o menino pelo menos uma vez por semana e que eles faziam sexo “completo”, em suas próprias palavras, “mas por insistência dele. Aquele moleque é maluco, mal entra aqui e já vai metendo a mão no meu pau”, arrematou.

Horrorizado, ele exigiu que isso nunca mais acontecesse e o ameaçou exposição junto aos pais do menino se ele não acatasse. Lembrou-se de um fato que havia acontecido três anos antes, quando o menino contava apenas cinco anos de idade. Uma noite, os pais dele saíram para uma festa e pediram que ele dormisse na casa do tio Junior, que a essa época ainda morava sozinho. No meio da noite ele acordou, deitado de barriga para cima, pernas abertas, com o vulto de uma criança sentada em cima de sua cama, segurando seu pênis ereto com as duas pequenas mãos, pronto para dar a primeira bocada. Aterrorizado, ele não deu alarme, simplesmente soltou um ronco e virou-se na cama. O garoto, assustado, pulou no chão e saiu correndo de volta para sua cama armada no sofá da sala. É claro que ele não poderia sancionar aquilo com um sermão sobre sexualidade às 3 da manhã. Nunca comentou o ocorrido com ninguém.
No dia seguinte à sua conversa com o namorado, quando Junior se encontrava sozinho no apartamento o menino veio visitar o “tio”. Meu amigo aproveitou a situação e chamou o garoto para uma conversa informal, mas conclusiva. Então, sentaram-se no sofá, e disse delicada mas de maneira incisiva, sem dar maiores detalhes, que definitivamente não gostaria que ele voltasse ali quando o “tio” André estivesse sozinho no apartamento. O garoto, vendo-se acuado e exposto partiu para ataque direto contra ele. Atirou-se literalmente sobre ele, com uma mão ele o agarrou nos testículos e com a outra, dedo em riste, brandindo a mão no ar, o enfrentou dizendo: “quem você pensa que é para me dizer o que eu posso ou não fazer? Eu sei muito bem que você trepa com ele. Por que eu não posso?”.

O ódio que ele leu nos olhos da criança ainda o faz arrepiar, o mesmo tipo de sensação que ele diz ter experimentado no momento em que o ergueu nos braços na hora do batismo. De repente quem estava diante dele não era mais uma criança inocente de oito anos, mas um homem amoral e sem escrúpulos, pior, um rival. Desvencilhando-se das pequenas mãos que o ameaçavam, escolheu a melhor resposta que lhe ocorreu no momento. “Nesse caso, já que você sabe disso, deve saber também que ele é MEU namorado, e não seu. Vá procurar um pra você e nunca mais volte aqui, senão vou contar tudo para seu pai”. O garoto o olhou mais uma vez nos olhos e disse friamente, entre dentes: “atreva-se”. Para fazer graça ele me contou que aquela cena parecia coisa de novela das sete, clichê barato pré-fabricado, mas aterrorizadora. Com essas palavras enxotou literalmente o garoto porta fora, puxando-o pelo braço, o coração batendo acelerado no peito.

Mais tarde, quando seu companheiro chegou, ele lhe relatou o ocorrido e disse ainda que eles corriam sério risco, que talvez fosse melhor fazerem uma viagem por algum tempo. Mas não deu tempo. Dois dias depois, quando se encontrava no escritório em que trabalhava, recebeu um telefonema de alguém informando que seu namorado havia sofrido uma tentativa de homicídio e estava entre a vida e a morte no hospital, todo quebrado. Ao chegar lá alguém lhe contou que o pai flagrou o garoto fazendo sexo com outro menino, deu uma surra no filho e perguntou onde ele havia aprendido tal coisa. A resposta veio de súbito: “com tio André e tio Junior, foi ele que me mandou arrumar um namorado”. Essas palavras foram tudo do que o pai, um grosso soldado raso da policia militar precisava para tomar sua decisão : matar os dois. Sem pestanejar foi à casa deles, agarrou “tio”André pelo colarinho, o arrastou até a rua e bateu nele até que caiu inconsciente, jogado no chão, numa poça de sangue, na frente de uma multidão. Depois pegou um paralelepípedo e só não estourou seus miolos porque a esposa, que assistia a tudo da calçada, interveio e impediu um assassinato. Pelos que assistiam a cena, ele mandou um recado ao “tio”Junior que destino ainda pior o aguardava, quando lhe pusesse as mãos e que dessa vez ia fazer o serviço completo. Também não pôde mais voltar ao seu local de trabalho pois o tal militar lhe disse que o pegaria lá também.

É claro que desde esse dia meu amigo nunca mais voltou em casa, nem para pegar roupas, pois seu algoz morava no mesmo prédio, dois andares abaixo. Saiu de lá com as roupas do corpo sabendo que se for pego poderá enfrentar a morte e o que é pior, com a sanção da polícia, da sociedade, e até dos presos, colegas da cela em que ele fatalmente cairia caso fosse julgado por um tribunal. Perdeu quase tudo que tinha. Uma amiga conseguiu trazer para ele a maioria de seus pertences. Mas os móveis ele nunca mais viu.

Quando eu lhe contei que tenho não um, mas dois meninos dentro de casa, com nove e onze anos respectivamente, ele se benzeu. Disse que eu não tenho idéia do tremendo risco que estou correndo porque imaginação – e maldade - de criança não tem limite. Diz ter aprendido essa lição da pior maneira possível. Segundo o pai da psicanálise criança tem sexualidade sim, e exacerbada, coisa que toda babá sabe de cor. E depois de Melanie Klein, então não pode restar qualquer duvida quanto a isso. Resta aos adultos reprimir nelas esse impulso até que estejam em uma idade em que a sociedade possa aceitar que desenvolvam e gozem de uma vida sexual completa. Junior considera seu ex-namorado culpado por não ter resistido aos apelos sexuais do menino. Depois que André saiu do hospital, eles terminaram o relacionamento de três anos e nunca mais se falaram.

A mente infantil é realmente muito fértil, mas devemos ouvi-las sob o crivo do bom senso e sentido de proporção. Como canja de galinha, um pouquinho de pé-atrás também não pode fazer mal. Não se pode dar crédito absoluto a tudo que elas falam por que, além de criativas, podem também ser bastante mentirosas e maldosas, como qualquer pessoa. Por isso, antes de julgarmos, execrarmos publicamente e atirarmos na cadeia pop-stars pré-julgados por sua aparência, excentricidade e esquisitice, devemos ouvir todas as versões e só depois tirarmos as devidas conclusões. Se é que isso seja possível . Talvez as crianças não sejam apenas esses doces anjinhos que nos enternecem e fazem com que as desejemos a qualquer custo.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Po... um situaçao estranha... uma criança de 8 anos, nao sabia q uma criança de 8 anos faria isso... nao tinha minima noçao... mas agora, depois desse acontecimento relatado pela pessoa ai... da para perceber que criança nao tem limite, tem malicias...nao eh sempre q isso acontece, mas um caso como esse, quasi causou um crime, por culpa de uma "inocente" criança...

sem mais o q fala :)... tchauzim

1:09 AM  

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